Muitas pessoas acreditam que Ubatuba está amaldiçoada. “Yo no creo em lãs brujas, pero que lãs hay, lãs hay”. Metáfora ou ditado popular? Tanto faz. O fato é que fico pensando como seria Ubatuba sem esta maldição atribuída a Cunhambebe.
Entrei no túnel do tempo da imaginação e lá estava eu defronte ao famoso Cunhambebe, ou Konian-bebê, e não tive duvidas, contei toda a artimanha que estava sendo armada pelos portugueses com a ajuda dos jesuítas.
Ele chamou os caciques Caoquira, Pindobossú e Aymberê, em uma rápida reunião resolveram atacar os portugueses, dito e feito, eles mataram, esfolaram e até escalpelaram a moda dos índios Apaches lá das terras do norte, e em seguida assinou um termo de ajuste de conduta (TAC) com os Franceses.
Mas a paz não durou muito, os safados dos Franceses também massacraram todos os índios da região, inclusive o Cunhambebe, que não teve tempo nem vida suficiente para amaldiçoar as terras de Yperoig.
Retornei rapidamente aos dias de hoje para ver o efeito borboleta da minha intervenção na história. Voltei para o mesmo local da partida e quase morri atropelado, a minha casa não existe mais, no seu lugar foi construída uma enorme rodovia, as mangueiras estão carregadas de frutos, aquela ferrovia foi finalmente construída e esta transportando toda a produção agrícola e industrial da região para o maior porto do Brasil lá no antigo Caisão, marinas fervilham por todas as partes. Grandes shoppings, Hipermercados e Hotéis Temáticos foram inaugurados, um novo aeroporto foi construído lá pelo lado norte da cidade, e é internacional.
Mas este grande progresso também ocasionou alguns efeitos colaterais. A mata atlântica foi totalmente devastada pelo crescimento desordenado, os morros viraram imensas favelas e são dominados por traficantes, a criminalidade disparou, as praias estão completamente poluídas, contaminadas pelos descartes das grandes indústrias, o ar é quase irrespirável, a cidade está com mais de Hum milhão de habitantes, o pequeno comercio familiar acabou, a lojinha do Rui fechou. Os meus amigos da praia do Ubatumirim foram gentilmente desalojados de seus refúgios aconchegantes no paraíso a beira mar, em nome do progresso, e eu não vou mais poder ir lá passar o domingo, tomar banho de mar e rio ao mesmo tempo e depois me refestelar na rede da Dalva da Farmacia, e ainda saborear um frango caipira com pupunha, feito pelas mãos mágicas da esposa do Seu Zé do Bar Casal 20.
O que foi que eu fiz? Quem almeja todo este progresso deveria morar em São Paulo ou ainda ir para o Rio de Janeiro. Entrei de novo no túnel do tempo da imaginação para desmentir tudo o que tinha dito, e deixar o curso natural da história acontecer, e para ter certeza que tudo daria certo fiquei por lá até o Cunhambebe jogar a sua maldição, e acabar com este terrível efeito borboleta. “Eu amo Ubatuba assim como ela é, sozinha isolada, só com sua fé. Conquanto ela suba ao progresso que vem, que fique guardada com tudo quanto tem. Ubatuba, sim, sim, sim!” Viva Cunhambebe e sua bendita maldição.