Lá pelos anos 80 a Praça da Republica em São Paulo era um local bucólico, porque não dizer romântico, na primavera as flores desabrochavam, as arvores mostravam toda a sua beleza pela abundância de folhas, o pequeno lago no centro da praça acolhiam varias espécies de aves aquáticas e muitas carpas coloridas, um verdadeiro cenário para o idílio, era lá que Lilia naquela tarde de primavera, esperava-o inquieta e aflita, afinal já a alguns dias que ele demonstrava não estar bem de saúde, e por isso estava fazendo alguns exames.
Sempre alegre, brincalhão, disposto a qualquer tipo de brincadeira, agora Luiz Carlos estava triste, cabisbaixo, passava pela sua cabeça graves pensamentos. Acabara de sair do consultório do medico da família, que o declarará portador do vírus HIV. Ele tinha certeza que era o fim de uma vida completamente desregrada e cheia de vicius.
Luiz Carlos tinha levado a vida abastada de uma maneira peculiar principalmente aos jovens ricos e fracos de espírito, que se entregam aos prazeres mundanos da vida, que cobra caros tributos, trazendo doenças e até a ruína.
Bem antes da maioridade, não existia sensações que ele não conhecera, nem qualquer tipo de sacanagem. Quando tinha vontade saia à procura de aventuras, pegava dinheiro com o pai e rumava para suas orgias, segundo ele gozava a vida de todas as formas.
Rico, educado e formado em engenharia graças à insistência de seu pai, levava uma vida completamente desregrada, e agora a casa caiu, sabia que estava condenado à morte.
Ele conhecera Lilia na faculdade que cursara a trancos e barrancos, ela tinha o rosto deslumbrante e uma ingenuidade encantadora, muito diferente das mulheres que estava acostumado há compartilhar seu tempo, Ela também era filha de pais ricos, franzina, de corpo delicado, parecia uma peça de cerâmica que poderia se partir a qualquer toque.
O seu corpo harmonizava com o seu romantismo, acreditava no amor incondicional, este conjunto de candura e pureza encantou a Luiz Carlos, que pela primeira vez conhecia o verdadeiro amor.
Era verdade ele amava a divina Lilia, pela ingenuidade com que ela via o mundo; amava-a pelos lindos olhos verdes, pela suas formas e pelos beijos que imaginava roubar.
Lilia retribuía este amor com grande ternura, afinal foi o primeiro rapaz que lhe falava com carinho e com tanta sabedoria, ele parecia ser muito experiente com as coisas da vida. Lilia aprendeu a ver Luiz Carlos como um homem inteligente, cheio de qualidades, e que a amava muito.
O tempo passou e os sentimentos foram aumentando e estreitando os laços desse amor maravilhoso, e que para ambos até aquele momento era desconhecido.
Foi ai que Luiz Carlos resolveu mudar de vida, resolveu constituir família, ter filhos e ser uma pessoa responsável, iria se dedicar a sua carreira de engenheiro. Rapidamente pediu permissão aos pais de Lilia para noivar, e esqueceu completamente a sua vida desregrada, estava realizado com o amor de Lilia, ele finalmente era um homem feliz.
E agora a vida lhe pregara uma peça, agora que tudo parecia entrar nos eixos veio está noticia, a morte era aterrorizante, morrer, morreria mais cedo ou mais tarde, mas se fosse mais tarde poderia desfrutar da vida com o seu amor. Mas o que mais o perturbava era deixar a Lilia nesse mundo repleto de perigo, e ela com certeza depois de sua morte sofreria por um tempo, mas o tempo cura as feridas e logo, logo, ela poderia estar nos braços de outro homem. O que ela faria? Se manteria fiel ao seu amor, a duvida corroia seus pensamentos, agora sabia que seu fim era próximo e inevitável, não conseguia aceitar que Lilia continua-se viva.
Essa idéia tornou-se uma obsessão e dominou totalmente seus sentimentos e enraizara-se no seu espírito, não que não tivesse confiança no amor de Lilia, sabia que ela era completamente fiel, mas não acreditava que com a sua partida ela poderia viver só de recordações, sofrendo de saudades.
Com esta idéia latejando em sua mente, Luiz Carlos correu ao encontro de Lilia que o esperava lá na Praça da Republica.
Luiz Carlos cabisbaixo caminhou em direção a Lilia que mostrava o maior e mais bonito sorriso que ele já havia visto em toda a sua vida, ele hesitou, mas afinal contou o que o medico havia dito, ela não mudou um centímetro seu sorriso, e disse: “não importa, morreremos juntos” e seriam felizes na outra vida. Parecia que ela lera seus pensamentos, e apoiava sua idéia, que lindo, morreriam juntos, perfeito, Romeu e Julieta dos anos 80.
Rapidamente ela se mudou para a casa do Luiz Carlos e lá viveu intensamente o amor que palpitava em seu peito, foram dias, meses maravilhosos, se transformara numa mulher. Ela não tinha grande constituição física, diferente de Luiz Carlos, que era um homem forte.
Os primeiros sintomas da doença se manifestaram intensamente em Lilia, que recebeu a noticia do medico com estrema naturalidade, afinal seus planos estavam se realizando, em pouco tempo ela se definhou, não mais saia da cama e por fim cerrou seus lindos olhos verdes para sempre.
Luiz Carlos constatou a morte de sua amada com naturalidade, agora ele poderia morrer tranqüilo.
O tempo passou e a doença não se manifestava no Luiz Carlos, os médicos começaram alguns tratamentos novos, tratamentos que poderiam impedir a manifestação do vírus. Ele passou este período com muita indiferença, somente se submetia aos tratamentos por insistência de seu pai, e continuava esperando a morte.
Mas como previra o tempo cura as feridas, e as lembranças dela se diluíam, sua imagem aparecia turva, a saudades diminuía dia a dia.
Após dois anos Luiz Carlos casou-se com Carla uma linda italianinha, de olhos azuis.
E Lilia, bem....... Lilia morreu por amor.
SILVIO BONFIGLIOLI
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