Hoje eu sei que não vale à pena trocar toda a experiência de uma vida, por menos cabelos brancos ou ainda por uma barriga de tanquinho. Enquanto eu ia envelhecendo fui-me tonando muito mais maleável mais flexível e muito menos critico comigo mesmo. Eu como o que quero ,quando quero, e o quanto quero, não me recrimino porque comprei pela internet algo completamente inútil, como um receptor de TV digital para computador, sem lembrar que aqui em Ubatuba não tem recepção de TV Digital. Eu tenho todo o direito do mundo de fazer o que quero afinal eu sou um sexagenário.
Já presenciei muitas pessoas partirem desta para melhor sem conseguir entender a magnífica independência que vem no bojo do envelhecimento. Quem é que tem a coragem de me censurar porque fiquei até as quatro da manhã no computador, jogando pôquer com um monte de amigos que nunca vi e provavelmente nunca verei.
Freqüentemente eu me pego dançando e cantando algum sucesso dos anos 60 e 70, recordando do velho salão de dança, Garitão, lá no bairro de Santana, ponto de encontro de periguetis e outras “cositas mas”, que hoje devem estar desfilando seus enormes maiôs esticados sobre um corpo decadente como o meu.
Eu estou esquecendo muitas coisas, mas graças a Deus que é assim, existe coisas que fizemos que devemos esquecer mesmo. Eu só quero me lembrar das coisas que me fizeram feliz. Quebrei o coração algumas vezes, mas como não quebrar quando se perde um ente querido, quando se muda de uma cidade e toda uma vida fica para traz. Quanto mais sofremos com o coração partido, mais fortes e perspicazes nos tornamos.
Quanto mais o tempo passa mais otimista eu fico, não dou mais bola para o que os outros podem estar pensando, eu hoje tenho todo o direito do mundo de estar errado. Sei que não sou imortal, portanto não tenho tempo de ficar me lamentando por aquilo que poderia ter feito ou mesmo o que não deveria ter feito.
Já ouvi muitas pessoas exclamarem, “Há! Se nos meus vinte anos eu tivesse a experiência que tenho hoje”. Grande engano, uma pessoa com vinte anos com a experiência de um sexagenário seria um tremendo mala e com certeza seria rejeitado pelos amigos. Só vivendo intensamente é que adquirimos experiência, esta mesma experiência que nos torna pessoas sabias e muito mais eficientes na vertical e principalmente na horizontal.
Lamentavelmente os mais jovens não sabem dar o devido valor a esta experiência, e freqüentemente tentam colocar os veteranos no banco de reserva, como se a vida fosse um grande jogo de futebol, onde o que importa é o fôlego e não a experiência. É por isso que eu digo: “A juventude é uma doença que a idade cura.” Antes que eu me esqueça, ”Velho é a mãe!”
SILVIO BONFIGLIOLI
s.bonfiglioli