“Ao meu filhinho querido. Quando estas folhas já estiverem amareladas
pelos anos e se Deus quiser tu fores um homem, passe os olhos por estas paginas
e lembraras de tua mãe. Com todo amor e carinho Thereza”.
Com estas palavras a minha mãe
inicio o relato do que ela considerou os principais momentos de minha vida.
Hoje, exatamente como ela profetizou, as paginas já estão amareladas eu sou um
homem e a lembrança se mistura a saudades e produz uma dor no coração que
reflete na alma.
Muito mais do que está
escrito, consigo ler as entrelinhas, consigo identificar os momentos em que seu
coração estava triste ou alegre. Quando relata pormenorizadamente, o dia e hora
do meu nascimento (18/04/49 as 3,20 h), uma segunda feira chamada de pascoeta,
pesando 4 quilos e 200 gramas, ou a primeira viagem à praia (São Vicente), no
dia 22 de abril de 1950.
Percebo o grande cuidado que
ela teve para dar mais ênfase aos bons momentos, deixando de entrar em detalhes
nos mais tristes. Mas no dia 25 de março de 1952, o medico da família, Dr.
Vicente D´Amato, diagnosticou que ela estava com “esgotamento nervoso”, acho
que hoje seria depressão. “A mamãe tinha tanto nervoso e fraqueza, que não
podia ouvir barulho, você chorar, correr, tudo parecia que estava dentro da
cabeça da mamãe”.
Conseguiu se recuperar
depois de vários meses de tratamento, e continuou a escrever, agora mais
espaçadamente, e parou no dia 25 de dezembro de 1961, (Natal). Ela me chamou e
entregou o livro com suas recordações dizendo que agora eu já podia se quisesse
continuar a escrever, coisa que eu nunca fiz.
Na minha juventude e
adolescência, eu nunca dei muita importância a estas anotações, mas com o
passar do tempo, percebi o grande amor que ela transmitia na narração e como é
importante saber dos detalhes da própria vida e de seus familiares. Os
casamentos dos tios, o nascimento dos primos, o batizado, a primeira comunhão,
a data da caxumba, da tosse comprida, da operação das amidalas e suas aflições,
as viagens, as festas, os presentes, os costumes da época, o exame de admissão
ao ginásio, à copa de 58, quantas coisas importantes aconteceram, quantos
ensinamentos, que se ela não tivesse perpetuado nas suas recordações estariam
perdidas no tempo.
Dentro deste livro de
recordações encontrei uma folha de caderno com um poema que escrevi na escola e
dei para ela no dia 11 de maio de 1958, que agora volto a oferecer a minha
saudosa mãe, e a todas as mães que tiveram a paciência de ler está coluna e
principalmente a Marli, minha amada esposa e mãe dos meus filhos. “Minha
mãezinha eu gosto de ti/ E neste dia que é teu vou cantar/ Este versinho com
todo carinho/ Para dizer quanto quero te amar/ E as palavras de nossa canção/
Guarda mãezinha no teu coração”.
Feliz dia das mães.
SILVIO BONFIGLIOLI
s.bonfiglioli@hotmail.com
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