Dona bruxinha de La Ubatuba
Publicado em 24/05/2012 às 17:13 por Silvio Bonfiglioli.




Tivesse eu o dom da escrita como tinha Miguel de Cervantes, estaria agora escrevendo a terceira parte do romance por ele escrito em 1605 e 1615, onde narrou as incursões de Don Quixote pelas terras de La Mancha, de Aragão e de Catalunha, e finalizaria agora em Ubatuba.
Mesmo não tendo este dom, não posso me furtar a relatar aqui está ultima incursão, agora na forma feminina e pelas terras de Coaquira. Como Don Quixote, muitos achavam que ela tinha perdido a razão pelas agruras da vida. Ela efetuou varias incursões pela cidade, sempre defendendo aquilo que achava certo, se envolveu em uma série de polemicas, mas suas aspirações sempre foram desmentidas pela dura realidade.
As suas frustações acabaram por enfraquecer o seu já desnutrido e enfraquecido coração, e no dia 25 de dezembro de 2011, justamente no dia de Natal ela foi acometida de um infarto, e encaminhada para a Santa Casa. Os médicos conseguiram mantê-la viva e após alguns dias obteve alta, com a recomendação de não fazer esforços físicos e muito menos passar nervoso.
Ela que quebrou varias lanças contra os moinhos de ventos da Câmara Municipal, quebrou lanças para proteger os animais abandonados nas ruas de Ubatuba, não seguiu as recomendações médica e se pós a batalhar pelo seu sustento e convicções, pedalando seu triciclo, ou melhor, seu cavalo Rocinante, protegida pelo seu chapéu de ponta estilo bruxa, que na verdade era seu elmo, e o seu vestido comprido que com certeza era sua armadura. Eu e minha filha MIMI, às vezes dávamos uma de fiel escudeiro, e acompanhávamos seus passos, levando seus cachorros para castrar, atendendo algumas demandas urgentes, levantando sua moral, e principalmente tentando mostrar a realidade, exatamente como Sancho Pança.
Como D.Quixote e seu cavalo Rocinante, a nossa D. Bruxinha e seu triciclo nunca foram levadas a serio, suas atitudes sempre foram consideradas grotescas e até motivo de piadas e pilherias. Finalmente no ultimo dia 21 de maio (segunda feira), às cinco e meia da manhã, a MIMI recebeu um telefonema da Santa Casa informando que a Dona Maria Elizabeth, mais conhecida como Bruxinha, havia falecido acometida de outro infarto, agora fulminante, e ela tinha que reconhecer o corpo. Deixou uma filha de 26 anos, uma neta de 2 anos e 15 cachorros. Foi velada no velório Municipal no Bairro do Ipiranguinha e sepultada às 16 horas do mesmo dia, no cemitério Bela Vista. Por tratar-se de pessoa com parcos recursos, a Prefeitura através da Secretária Municipal de Cidadania e Desenvolvimento Social arcou com as despesas, a Funerária Litorânea forneceu o ataúde e como de costume cuidou prontamente e eficientemente do féretro.
A história de D.Quixote foi redigida sob a forma de novela realista, e ele ao regressar a seu povoado, percebe que não é um herói, e também percebe que na verdade não existem heróis, o que deve existir são atitudes em busca da justiça social. Ela agora que com certeza foi recebida de braços abertos por Deus, que ao contrario de nós mortais, sabe reconhecer as virtudes humanas, também já percebeu que suas lanças quebradas não foram em vão, lutou por aquilo que considerava certo e sem duvida teve muita atitude, por isso merece toda a nossa admiração e homenagem. Adeus Dona Bruxinha de La Ubatuba, nós vamos sentir sua falta